Toda ideia perfeita de hoje não resiste à análise, em retrospecto, do seu fracasso de amanhã.

 

Post Mortem vem do latim que significa Pós Morte. Diz a lenda que o costume surgiu na Inglaterra, quando a rainha Victoria, pediu que fotografassem o cadáver de um amigo, para que ela pudesse guardar como recordação. Depois disso, o costume se espalhou, para quem quisesse guardar, a recordação mais triste que poderia ter, da pessoas amada. Hoje achamos extremamente mórbido, mas no século XIX, era comum que as pessoas guardassem álbuns com fotos, das pessoas que já haviam partido.

Descrição da Ferramenta

Para que a sessão de lições aprendidas seja conduzida de forma objetiva e produtiva, podem ser utilizadas ferramentas que garantem o mapeamento dos principais pontos positivos e negativos do projeto e suas respectivas causas. Uma dessas ferramentas é apresentada por KERZNER [2006] como suporte à análise post-mortem e deve ser utilizada para se ter uma visão geral do projeto.

 

Esse nível mede o impacto sobre os negócios em decorrência de uma implementação de mudanças. Áreas típicas de mensuração são apresentadas na Figura 11-2.

 

 

KERZNER [2006] propõe que a análise post-mortem seja feita com base na pirâmide ilustrada na Figura 11-2. De acordo com o autor, “os objetivos de um projeto são estabelecidos a partir do topo da pirâmide. No entanto, a análise post-mortem que avalia as mensurações do projeto segue no sentido contrário, ou seja, de baixo para cima”.

Como a ferramenta funciona

O primeiro andar da pirâmide analisa os fatores críticos de sucesso, também chamados de tripla restrição: tempo, custo, escopo e qualidade. O segundo andar da pirâmide considera os indicadores-chave de desempenho (KPIs), ou seja, avalia se as práticas internas estão possibilitando alcançar bons resultados no projeto. O terceiro andar da pirâmide avalia questões relacionadas à estratégia. Todos os andares da pirâmide devem estar de acordo com a missão do projeto e da organização. As perguntas típicas listadas por KERZNER [2006] para cada item da pirâmide estão descritas no Questionário 1 :

 

Questionário 1  – Pirâmide Post-Mortem

  1. Tempo
  • Os prazos eram realistas?
  • O nível de detalhe estava correto?
  • Era fácil avaliar o desempenho a partir do cronograma?
  • O mapeamento era realizado com facilidade?

 

  1. Custo
  • Qual foi a precisão de nossas estimativas?
  • Nossas estimativas precisam ser atualizadas?
  • O mapeamento de custos seguiu nossa metodologia?
  • Houve problemas com informações sobre custos?

 

  1. Qualidade
  • Adequamo-nos às especificações do cliente?
  • O produto teve o desempenho esperado?
  • Avaliamos a durabilidade, a confiabilidade, a utilidade e a estética?

 

  1. Escopo
  • A declaração do trabalho era de fácil compreensão?
  • Os objetivos estavam claramente definidos?
  • Havia tecnologia exclusiva envolvida?
  • Se havia, a empresa tinha proteção de patente?
  • Os trade-offs foram obtidos?

 

  1. Apoio do gerenciamento de áreas
  • Os funcionários designados tinham o conhecimento exigido?
  • Qual era a qualidade dos recursos?
  • Os recursos demonstravam capacidade inovadora?
  • A quantidade certa de recursos foi desvendada?
  • Os recursos foram alocados de maneira oportuna de acordo com o cronograma?
  • Houve sobrecarga dos recursos?

 

  1. Apoio da alta administração
  • A alta administração demonstrou apoio?
  • A alta administração mostrou-se útil?
  • A alta administração descentralizou as tomadas de decisão?
  • A equipe de projetos teve autoridade suficiente para o trabalho exigido?
  • Havia um mapa ou planta do projeto?

 

  1. Metodologia
  • A metodologia possibilitava respostas rápidas?
  • O planejamento foi realizado corretamente?
  • A metodologia possibilitava a elaboração de um plano de contingência?
  • As ferramentas de apoio à metodologia eram perfeitas e estavam à disposição?

 

  1. Satisfação do cliente
  • O cliente ficou satisfeito com a relação preço-qualidade-valor?
  • Os produtos foram entregues no prazo?
  • Existem oportunidades de valor agregado ou um trabalho de acompanhamento à disposição?

 

  1. Oportunidades de negócios
  • Suas pressuposições eram válidas?
  • Há oportunidades de vendas adicionais que não sejam para esse cliente?
  • O projeto possibilitará o crescimento da organização?

 Fonte: KERZNER [2006]

 

Aplicação da ferramenta:

 

POST-MORTEM EM JOGOS DIGITAIS:

Contextualizando no foco de jogos digitais, quando acaba o desenvolvimento de um jogo digital, é o que caracteriza esse processo. O objetivo é verificar o que deu certo ou não, para que, nos próximos projetos, tenham-se subsídios para tomar as melhores decisões ou evitar problemas que já ocorreram em outras experiências.

-> O que avaliar em um post-mortem ?

  • Qual o projeto em questão? Afinal, nem toda a experiência que deu ou não certo no projeto se aplica a todos os outros. Cada projeto tem um perfil diferenciado e isso tem que ser levado em conta no post-mortem. Pode variar no gênero do jogo, tamanho de equipe, plataforma, método de gestão, etc;
  • O que deu certo perante boas práticas no desenvolvimento do jogo digital? Ou seja, quais as práticas que ajudaram no processo criativo, agilizaram o desenvolvimento, reduziram custos, integraram mais a equipe, reduziram ruídos de comunicação, reaproveitaram código ou assets gráficos, entre outras boas situações?
  • O que não deu certo perante práticas aplicadas na produção do jogo digital? Nesse caso, só pensar negativamente nas perguntas anteriores das boas. Lembrar que todo erro gera aprendizado para um próximo projeto. Aqui, é o momento de reconhecermos isso e evitar nos próximos. Não existe vergonha alguma em admiti-los e ninguém na equipe será melhor ou pior devido a eles. Afinal, é uma equipe, não um grupo sem integração. O resultado final interessa a todos.

-> Recomendações para um bom post-mortem 

  • Faça o post-mortem. Muitos negligenciam essa etapa pelo jogo já estar lançado, mas, se entenderem que essa avaliação melhora e ajuda nos próximos, vão valorizá-lo mais;
  • Realizar a reunião de post-mortem em ambiente descontraído e longe do trabalho. Isso relaxa mais a equipe e as contribuições são mais poderosas;
  • Envolva a todos da equipe, pois todos têm a contribuir. Cada visão pode ajudar e muito em um próximo projeto;
  • Tenha alguém que assuma a gestão da reunião: para evitar perda de foco e tempo. Aliás, isso vale para qualquer reunião que você fizer profissionalmente;
  • Fazer um registro e o disponibilizar para todos da equipe. Algumas empresas até oferecem isso para a comunidade de desenvolvedores inteira.
  • Cuidado ao falar dos aspectos negativos. No livro “Manual de Produção de Jogos Digitais”, essa dica é bem abordada e concordo plenamente. Afinal, você lida com pessoas e pode invadir, com algum comentário, o lado pessoal delas. É um motivo para uma discussão que não será saudável e profissional ao post-mortem.

 

Referências Bibliográficas

CHANDLER, Heather Maxwell. Manual de produção de jogos digitais. Capítulo 24: Post-mortems. Porto Alegre: Bookman, 2012.

COLLIER, B., DeMARCO, T., FEAREY P.,1996, “A Defined Process for Project Post Mortem Review”, IEEE Software, vol. 13, no. 4, July/Aug, pp. 65-72.

ESCOLA BRASILEIRA DE GAMES – Post-mortem em Jogos Digitais: As Lições Aprendidas no Desenvolvimento. Disponível em: <http://escolabrasileiradegames.com.br/2017/02/16/post-mortem-em-jogos-digitais-as-licoes-aprendidas-no-desenvolvimento/&gt;. Acessado em : 24 de maio de 2017.

KERZNER, H. “Gestão de Projetos: As Melhores Práticas”. São Paulo: Bookman, 2006.

MOELLER, R. R. Sarbarnes-Oxley and the new internal auditing rules. Hoboken, New Jersey: John Wiley & Sons, 2004.

WYNNE, J., 2002, .Get Participants to Sign at Your Post Mortem., Online: http://www.gantthead.com/article/1,1380,138137,00.html (verificado em novembro/ 2002).