Você já parou para pensar que o ciclo de vida de um projeto pode ser comparado ao ciclo de vida humano? Afinal, ele nasce, cresce, se desenvolve e morre. Porém, como o tempo se tornou uma vantagem competitiva, surge a engenharia simultânea. Neste artigo será apresentado como é o ciclo de vida dos projetos e como a engenharia simultânea irá impactar em seu desenvolvimento.

WhatsApp Image 2017-10-30 at 09.40.26Figura 1 – Fases da Vida Humana  / Fonte: https://goo.gl/images/8hkzxm

O ciclo de vida do ser humano – Figura 1 – é basicamente dividido em: inicio (nascimento), meio (desenvolvimento) e fim (morte). Analogamente, os projetos possuem estas mesmas características. Assim como com as pessoas, nenhum projeto é igual ao outro e, além disso, ele é segmentado por uma sequência de fases e entregas, onde é possível controlar e gerenciar de forma mais eficiente durante todo o seu processo.

Segundo o PMBOK (2013), “um projeto é um empreendimento temporário com o objetivo de criar um produto ou serviço único. Temporário significa que cada projeto tem um começo e um fim bem definidos. Único significa que o produto ou serviço produzido é de alguma forma diferente de todos os outros produtos ou serviços semelhantes.”

Cada fase de um projeto é delimitada pela entrega de um ou mais documentos chamados de “deliverables” (entregáveis ou entregas), algo tangível, verificável e controlável. Ao final de cada fase, estes “deliverables” são analisados a fim de avaliar a performance do projeto nesta etapa, se o projeto deve ser continuado ou interrompido, além de ser possível a identificação de erros e corrigi-los para a fase seguinte.

Para cada uma das fases se faz necessário um controle gerencial junto a seus responsáveis através de subprodutos específicos para obter um maior controle no processo. As avaliações e revisões das entregas são necessárias, pois fornecem subsídios às tomadas de decisões necessárias ao projeto.

Como mencionado no inicio deste post, cada projeto é único e, dependendo de sua demanda, irá influenciar no número de fases, tendo como mínimo três fases, como mostra a Figura 2 para projetos genéricos.

WhatsApp Image 2017-10-30 at 14.55.29Figura 2 – Ciclo de vida de um projeto genérico / Fonte: https://goo.gl/images/2rHH4r

Apesar de o número de fases variar, existem algumas características comuns para todos eles.

  • O nível de esforço (custo e pessoal) exigido durante o projeto não se apresenta de forma linear
  • A probabilidade de sucesso do projeto está diretamente ligada à sua fase. Logo, ele um inicio de risco alto e probabilidade de sucesso baixa e, ao longo do tempo, estas variáveis se invertem.
  • A capacidade de adequação ao projeto diminui gradativamente e o custo das mudanças (correções e trabalho requerido) aumenta exponencialmente no tempo. (Fig. 3)
  • A influência dos stakeholders no projeto é grande no inicio e se reduz ao longo do seu desenvolvimento. (Figura 3)

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Figura 3 – Impacto da variável com base no tempo decorrido do projeto / Fonte: https://goo.gl/images/MiTj81

Pelo fato de não existir um número exato de fases, cada autor adota um número ideal considerado como o ciclo de vida para um projeto. Neste post será apresentado o conceito proposto por Adams, onde seu ciclo é composto por 4 fases (Figura 4): Conceitual, Planejamento, Execução e Término (final). Na tabela 1 abaixo, é possível conhecer as tarefas ao longo de cada fase.

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Figura 4 – Tarefas de projeto ao longo das fases do ciclo de vida – Fonte: https://image.slidesharecdn.com/gerenciamentodeprojetosmododecompatibilidade-160908102500/95/gerenciamento-de-projetos-modo-de-compatibilidade-86-638.jpg?cb=1473330370 (adaptado)

Fase I – Conceitual Fase II – Planejamento
Identificar necessidades

Estabelecer viabilidade

Identificar alternativas

Preparar proposta

Desenvolver bases para programação e orçamento

Montar equipe do projeto

Implementar a programação

Conduzir estudos e análises

Obter design do sistema

Construir e testar protótipos

Analisar resultados

Obter aprovação para a produção

Fase III – Execução Fase IV – Final
Buscar Materiais

Construir e testar ferramenta

Desenvolver requisitos de suporte

Produzir o sistema

Verificar a performance

Fazer as modificações necessárias

Treinar pessoal de operação

Transferir materiais

Transferir responsabilidades

Liberar recursos

Realocar membros da equipe de projeto

TABELA 1 – Tarefas de projeto ao longo das fases do ciclo de vida – ADAMS (1988) (adaptado)

Conforme observado, este ciclo é uma sequência lógica dividida em fases bem definidas e que necessitam de aprovação para a passagem entre elas. No entanto, em muitas das vezes, existe a sobreposição de fases. Esta é uma técnica usada quando há necessidade de se conseguir prazos reduzidos através do paralelismo de atividades. Contudo, seu uso somente acontece quando os riscos do inicio da próxima fase são considerados aceitáveis.

De acordo com KRUGLIANSKAS (1993), a engenharia tradicional seqüencial já não consegue dar respostas em tempo hábil. Assim, a Engenharia Simultânea apresentou-se como uma alternativa para o atendimento de competitividade neste novo ambiente.

WhatsApp Image 2017-10-30 at 09.40.18Figura 5 – Relógios / Fonte: https://www.nautilusplus.com/content/uploads/2012/07/Clocks_iStock_11714232.jpg

A forma ordenada tradicional implica em algumas deficiências como: falta de integração entre as etapas; problemas na troca de informação; retrabalhos e, consequentemente aumento de custos na fase de execução; e ausência de uma coordenação de projetos. Estes são alguns fatores que levam a uma não otimização do sistema como um todo.

Com avanços tecnológicos constantes e uma alta competitividade, onde “tempo é dinheiro”, surge uma nova abordagem no gerenciamento de projetos, onde agora as fases do projeto ocorrem em paralelo, reduzindo tempo e custos. Além disso, passa a existir uma maior interação entre todas os envolvidos. Este sistema é conhecido como Engenharia Simultânea.

A Figura 6 mostra o comportamento entre estes dois sistemas. No gráfico, é possível observar que o ciclo de vida do projeto pelo modelo simultâneo é mais curto; além disso, o ciclo do projeto que utiliza o modelo seqüencial provoca um pico de acúmulo de esforços na fase de implantação que é conseqüência de revisões no projeto e de custos decorrentes de reformulações e retrabalhos (KRUGLIANSKAS, 1993). Verifica-se, também, que no início do desenvolvimento do projeto o modelo simultâneo exige um maior investimento de recursos.

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Figura 6 – Ciclo de vida do Projeto em processos sequenciais e na engenharia simultânea / Fonte: KRUGLIANSKAS (1993)

A engenharia simultânea é vista como uma forma de reorganização da empresa, evitando retrabalhos no longo prazo. Trabalho em equipe e comunicação são essenciais para o bom funcionamento da engenharia simultânea e sua implantação depende de treinamento dos recursos humanos a fim de entender esta abordagem e adquirir as habilidades requeridas. Porém, em alguns casos, se faz necessário uma mudança na estrutura organizacional nas empresas, o que pode ser motivo de resistência à implantação deste método.

Sua empregabilidade será apresentada sucintamente através do estudo de caso em uma empresa construtora de pequeno porte. Primeiramente foi escolhido o empreendimento a ser usado como um projeto piloto; então foi definido o local para reuniões e um cronograma de atividades. Este projeto terá 2 blocos, 3 andares com 4 apartamentos cada, totalizando 24 apartamentos. O tempo de implantação do método proposto é de aproximadamente 3 meses.

O ciclo deste projeto foi definido em 7 fases e neste artigo será apresentada cada uma delas e suas definições frente ao projeto, mas sem levar em consideração informações específicas da empresa.

Fase 1 – Diagnostico do Processo de Projeto da Empresa. Consiste na elaboração do organograma da empresa e da Estrutura Analítica de Projeto (EAP) utilizada pela empresa a fim de se conhecer sua estrutura organizacional.

Fase 2 – Definição da Equipe Multidisciplinar. Consiste na seleção dos membros da equipe com base em competências técnicas e disponibilidade de acompanhamento e na elaboração do organograma desta equipe.

Fase 3 – Capacitação da Equipe Multidisciplinar nos conceitos de Engenharia Simultânea e Análise dos Modos e Efeitos de Falhas (FMEA). Consiste em treinamentos para a equipe de projeto como: apresentação da metodologia proposta; uso de técnicas de gerência de projetos; funcionamento e importância de equipes multidisciplinares; utilização de ferramentas de engenharia simultânea como Matriz Tarefa x Responsabilidade e Matriz de Correlação entre Disciplinas de Projeto; uso da técnica de análise dos Modos e Efeitos de Falhas – FMEA (formulário, lista de verificação e quadro 5W1H).

Fase 4 – Apresentação dos Fluxos do Projeto e definição das funções dos membros da Equipe Multidisciplinar. Consiste na apresentação à equipe do macrofluxo e do fluxograma do desenvolvimento do processo de projeto. É feita então a matriz tarefa x responsabilidade com a definição da função de cada membro da equipe. Esta integração de áreas caracteriza o modelo simultâneo.

Fase 5 – Hierarquização das Correlações entre Pares de Disciplinas de Projeto. Consiste na elaboração da matriz de correlação entre as disciplinas do projeto piloto, através de pesos que indicam a intensidade da correlação entre elas.

Fase 6 – Análise das Correlações entre pares de Disciplinas Selecionadas. Através dos indicadores que apresentaram as maiores intensidades nas correlações na fase anterior, é realizada uma lista de verificação para identificar os modos de falhas potenciais definidas por brainstorming e assim, preparar o formulário FMEA e o plano de ação para solucionar as não conformidades através do quadro 5W1H.

Fase 7 – Verificação da Conformidade do Processo. Consiste na analise crítica de cada ponto do processo, verificando possíveis não conformidades. Neste projeto foi utilizado o software AutoCad para a verificação de não conformidades possíveis. Após toda esta analise e sanadas as não conformidades, o projeto foi aprovado e liberado para a fase de produção (obra).

Todos os resultados obtidos foram entregues e analisados em reuniões feitas ao longo das fases do projeto.

Assim, este artigo mostra que a aplicação da Engenharia Simultânea é possível e apresentou vantagens como: maior transparência na visualização das interfaces entre disciplinas; definição clara da função de cada membro da equipe; redução considerável das não conformidades; diminuição do índice de retrabalhos durante o desenvolvimento do projeto. Desvantagens também foram observadas na aplicação deste modelo, como: necessidade de melhorias no gerenciamento das informações produzidas durante o desenvolvimento do projeto; necessidade de um trabalho mais aprofundado para sensibilização e motivação dos profissionais de projeto no engajamento destes à equipe multidisciplinar.

 

Referências Bibliográficas:

DIAS, J. Por que usar a engenharia simultânea em seus projetos. Disponível em: <https://blogdaengenharia.com/por-que-usar-engenharia-simultanea-em-seus-projetos/&gt; Acesso em: 29 de Out. 2017.

KRUGLIANSKAS, I. Engenharia simultânea: organização e implantação em empresas brasileiras. Revista de Administração, São Paulo, v. 28, nº 4, p.104-110, out/dez 1993.

PMI – PMBOK – Project Management Body of Knowledge, USA, 2000

SILVA,R. Curso: Gerência de Projetos: Teoria e Prática – Módulo 1. Disponível em:  <http://home.ufam.edu.br/regina_silva/Gerencia%20de%20Projetos/Modulo%201/Conte%C3%BAdo%20M%C3%B3dulo%201.htm>Acesso em 28 de Out. 2017.

SÉLLOS, L. Ciclo de vida do projeto de uma forma mais ortodoxa. Rio de janeiro. Disponível em: <https://uvagp.wordpress.com/2017/10/17/ciclo-de-vida-do-projeto-de-uma-forma-mais-ortodoxa/#more-309&gt; Acesso em: 28 de Out. 2017

TAVARES JÚNIOR, W. Desenvolvimento de um modelo para compatibilização das interfaces entre especialidades do projeto de edificações em empresas construtoras de pequeno porte. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/80304&gt; Acesso em: 29 de Out. 2017.